segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Falta Educação...

Será que seja por sermos jovens demais? São 510 anos de Brasil apenas. Não temos nem a idade da Sainte-Chapelle. O que nos falta? Educação? O olhar cuidadoso sobre a vida, sobre a nossa história? Valores? Atitudes? Como construir isso?
Dia 18 de setembro fiz a Caminhada Literária no Centro de Porto Alegre e que havia sido transferida do dia 11 de setembro devido a chuva. Nosso cicerone foi o jornalista e escritor Carlos Urbim e algumas interferências feitas por arquiteto da Prefeitura.
Num passado não tão distante passear pelo Centro, pela Andradas, ir nos Cinemas (que já não existem) eram o forte da sociedade local. Ali, decisões políticas, saber dos acontecimentos, ver amigos, fazia parte do dia-a-dia da população. Atualmente, tem-se medo de ir ao Centro. Esse projeto da Prefeitura, Viva o Centro a pé, tem me feito retornar ao Centro da Cidade, procurar dar um olhar carinhoso à esse bairro que tanta importância tem para a economia de Porto Alegre.
O poeta Mário Quintana viveu no Centro muito tempo, amou esse bairro até o fim de sua vida. O Hotel Majestic uma de suas moradias, hoje é um Centro Cultural. Os Cinemas Imperial e Capitólio também estão sendo reformados para se transformarem em Centros de Cultura. Espera-se com isso buscar a retomada de um público que veja o Centro não apenas como um local de compras.
Muitas intervenções vem mudado o cenário decadente que o Centro de Porto Alegre se transformou, como a Rua dos Antiquários, a lavagem das escadarias do Viaduto da Borges. Mas isso é pouco para uma cidade.
No Viaduto vi jovens moradores de rua jogar colchões, roupas sobre um telhado. Esse local virou residência de tantos. Como se pode reviver um bairro com problemas assim. Pensei no que minha amiga falou da Europa. Muitas escadarias são verdadeiros jardins. Floreiras são dispostas em toda extensão. Mas aqui...
Mais adiante, na Praça da Matriz, o belo monumento central está todo pichado e havia um par de tênis pendurado nele. Não vi isso em Montevideo, cidade mais pobre que Porto Alegre. Mas que bela cidade. Será que não poderia ser feito um trabalho de educação cultural com esses jovens e os transformassem em guias do Centro histórico? Como incluí-los também nesse processo de olhar sua Cidade com outros olhos? Será que eles não poderiam aprender ofícios, recuperar monumentos? Somente um trabalho de inclusão social poderá contribuir positivamente para evitar esse cenário.
Mais uma surpresa. Quando descíamos a ladeira da General Câmara notei que as pedras que dividem a rua estão quebradas, sujas, cheias de lixo, dando um aspecto triste a uma rua de tantas histórias. Pensei: porque não colocar pequenos arcos trabalhados em ferro e floreiras ali. Creio que as vezes os próprios administradores precisam fazer caminhadas, imitar o Mário, que caminhava diariamente pelas Ruas de Porto Alegre e sempre encontrava motivos para suas poesias.

Lembremos o Mário

O MAPA
Mário Quintana

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


Dica Cultural:
                          


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